"^^^mmm h  ^ jCtlirarç ©rutnrt pínttrerMtp TheGiftof The Associates of The John Cárter Brown Library ^^ - ^^^'im^^m^&^Ê^^mmm 1 í( Celadàn Bíned. 32 . Sermão ^ com preferencia ao de eílar Deos em vós, como em Cidade do Salvador : Bi me manet , ^ ego in tilo. Parabém re íeja , ô Cidade da Bahia , o tribu- tares na tua Cathedral com taô reverente pompa ttô folemnes cultos á melhor Bahia de todos os Santos triunfa fempre de todos os teus contrários, para que adores em paz ditofa aqueila mâramlhofa Gi-» dade, fempre triunfante: alifta todos os teus mo^ radores por íoldados daqueile fagrado preíidio ; porque nelle nao íe armaô tanto para as pelejas, quanto para as vitorias : Euchartftia efi armamenía' riumyde quo milites non tam ad pugnam, quam aã vtão^ riamprocedunt, Evós,íoberano Senhor facramenta- dOjVivoReynodosCeos, e Imperial Bahia de io- dos os Santos , í^zqj quQ todos os que entraôjiuma vez dentro deífa Cidade do refugio,naõ fayaô mais fora delia ^ para que militando fempre debaixo das bandeiras do voíTo amor na guarda da voíTa fanta iey, ecom osaccrefcentamentos da voíía graça alcancem feguros os troféos da voíTa gloria: Ad quam nos perducat Pat er , & Films y & Spmtus San-^ ãus, Amtn. FIM. SERMÃO DA santíssima VIRGEM MARIA L NOSSA SENHORA D A L A P A, EXPOSTO O SS. SACRAMENTO, Na tarde do dia de Reis , Em que profefsárao duas Religiofas Afilhadas damefma Senhora , e ultimo dos finco feílivos pelas Profif- soes das novas Religiofas da Conceição no anno de 1746. DEDICADO^AO SENHOR SEBASTIÃO BORGES DE BA RROS, Cavalleiroprofejp) na Ordem áeChriJio, Familiar àoS.Officio, Coronel de hum dos Regimentos da Cidade da Bahia 5 POR SEU AUTHOR O R. PADRE TOSE' DE OLIVEIRA SERPA. Presbjtero fecular Bahienfe ^ - *s» LISBOA, NaOfficina de MIGUEL MANESCAL DA COSTA, Liipreílbr do Santo Officio. Anno 1751. Com as licenças necefarias. W: r ■! AO SENHOR SEBASTIÃO BORGES DE BARROS, Cavalleiro profejjo na Ordem de ChrUio , e Coronel de hum dos Regimentos da Cidade da Babia^ NDUBlTAVELfica a veneração , com que refpeito a generofa peffoa de 1/. M. quando em feverente obfequio lhe dedico efie Sermão» Jà fjefta occafião conjagrei hum de Santa Tere^ fa de Jefus ao Reverendtjfimo Senhor Cóne- go Doutoral irmão de /^. M, e logo o am- A ii 1i.!jj,.|Í!l:: .,• w I ll|:''v rrio lllíi mo affeBmfo fuggerto a vontade que ofere- ce [fe a !/. M. efie , para que ficajfem iguaes ms ofertas dom irmãos tão feme Ih antes na generofidade , cofiumes , e benevolência. Nenhuma dferença acho entre am-^ ú..Ms no ufo das letras y pofto que feja muita nas occupações dos cargos : elle nas fuás in-^ cnmhencias Ecclefiajlicas , e F. M. nos em- pregos militarei ; mas como d paz , que fe- lizmente gozamos em o nofo Brazil , tem dejlerrado os exercícios da guerra y ejlá octo^ fa a palefira de Marte , e os alumms delia fe engolfão mais nos cuidados de Mercúrio pelo negocio , do que nos defaelos de Palias pela fabedoria ^ tão útil para as letras , co-^ mo proveitofa para as armas. De todos porem he K M excepção fem lifoya , porque na fua juventude ad- qmrto pelo efludo a f ciência da lingua Lati- na , em que he perito , e nos Eftudos Geraes dejla Cidade verfou a Ftlofofia , em que fe graduou Licenciado , fundo a primeira pe- dra dofeu curfo , para que foi efcolhido en-^ tre os Collegas pelo conceito , que o Padre Mejirefez da capacidade de K M. para defempehhar fua eleição. /ícabm l/, M. o exercido das Aulas . mas mas não deixou o ufo dos livros , ai^da en-^ tre os cm dados da economia , com que Ce co- nhece augmentada fua nobre cafa , em igual concurjo da f abe dória , que lhe feiura os fundamentos , e da prudência , que lhe mi- fiifira os esforços. K como não fera perma^ nente ã cafa efiabelecida com fabedorta , e prudência / He vaticinio do maior Rei , Sa- lamão no Capitulo 14. de f eus Froxerbios: Sapientiâ aedificabitur domus , & pruden- tia roborabitur. Prudência foi querer V. M. perpetuar fua cafa , e fot fabedoria eleger efpofa , em que os dotes da natureza avuhão mais do que os da fortuna , porque efles eftão fujei- tos à incon/iancia da fua roda , e aquelles ferTfpre extflem na e fiabilidade da 'venera^' ção^ ÂJfim efcolhe quem he fabto , e aí/im obra quem he prudente , antepondo a qua- lidade do Jangue à quantidade do dinheiro^ Tão injuriofa em hum Eccleftajiico he a ignorância , como louvável em hum fecu- lar he a fabedoria ^ e melhor naquelles , que fabem ajuntar em Palias a Toga com as armas : e ate nos corpos infenfivets fe faz plau/ivel efta união , -como fe vê no Sacro Pa- lácio Vaticano , onde por difpoftção do Sum- mo %'.' ':f mo Ponúfice Urbano Vllh fazendo-Je por baixo do f alão y em que eflá a f amo f a livra- ria , huma igual cafa de armas , fe lhe gra^ vou ainfcrfpção: Urbanus VIII. litteris ar- ma,-arma litíeris. Não exerce V. M. as armas no Jeu pofto , porque a paz fugindo da Europa , on- de fempre a perturbarão , veio fazer ajfen- to na America , da qual a guerra , que hu- ma fó vez nos appareceo com cara de here- je y com elles fe tornou corrida para Holan- da j epor iffo com louvável gojl o menea V. Af. as folhas dos livros pela da efpada , adqui- rindo nelles a intelltgencia , capacidade , e prudência , que mojira no feu trato , e con- verjação j e por onde fe faz digno de que lhe dedique ejle Sermão : obra , que fera inef" timavel em quanto não tiver efculpido na fronte o nome de /^*. M. e por iffo quero que a receba como fua , para communicar-lhe o refpeito da pejfoa , com que retroceda o orgulho da emulação. Deos guarde a V, M. por muitos , e felices annos. Bahia 8. de Julho de 1748. De Y. M. Obfequentiílimo fervo, e fiel amigo ^ofé de Oliveira Serpa. Ao M. Rev. Senhor ^ofé de Oliveira Serpa. pregando nas Profifsoes das Religiofas da Lapa o ultimo Sermão no dia de Reis , em que mojlrou aquellas Religiofas Rainhas coroadas. A SONETO. Quelle Sacerdote Samuel, Que de Judéa fez Rei a Saul, Comfeu nome encheo todo o globo azul, Por dar Príncipe ao povo de l&ael. Vós também Sacerdote a Deos fiel. Como o Profeta Sacro de Bethul, O mundo todo encheis de Norte a Sul Deíle voíTo Sermão com o papel. Se a Samuel refultou gloria civil. Porque ao filho de Cis com pompa Real Torna em fceptro o cajado paftorilj Vós, que para eíTa Corte Celeftial Fazeis tantas Rainhas no Brazil , Mais que Samuel tereis gloria immortaL ;i)l|l']í>IC I ■WT' |IHlpiii Eli :'■■ Defeu Sohrinhoj e Afilhado Silvefire de Oliveira Serpa, Aq m^ím Aó M. R. Senhor Jofé de Oliveira Serpa, pre- gando eruditamente , como coftuma, na Pro- fifsão das novas Religiofas da Lapa, N SONETO. Ovo^SoI exiftís, que em claro império Corações accende, almas illumina, Se aos Aftros de belleza peregrina Illuftrais de hum Convento no emisferio. De voíTas luzes com o miniílerio Abris os olhos a qualquer menina, Que do aíTumpto Real pela doutrina Se arroga trez Coroas de myfterio. Alegres eftao todas em feus Maios, Porque ao mundo as moftrais Rainhas bellas Nos feus véos de coroas com enfaios. Sois em fim claro Sol, pois fem cautelas Só do voíTo difcurfo com os raios Illuminar podeis tantas Eílrellas. Offerece-o O mais reverente venerador^ e leal criado de V, M. João Pereira do Nafcimento, Una Urjaejl Columhamea . .. vidermt eamfiliíe ^ Êf beaitffimam pradtcavermt j Regtna . , . laudaverunt eam. Cantic 6. E o ter Eftrella he annuncio de felicidade, como não fera feliz quem tem Eílrella, Lua, eSol? Senhor, fendo efte dia trez ve- zes Real, e efta feíla por mui- tas razoes grande , juílo era que para engrandecer mais o dia, e authorizar mais a fefta, de manha atè à tarde eftiveíFe enthronizado o Rei dos Reis , e o Se- nhor dos Senhores : Rex Regum^ f Dominus Apoc. 19 dominanttum. Se o ter Eílrella he annuncio de felicidade , como não fera feliz, quem tem bf- trella. Lua, e Sol ? Tiverão Eílrella , e muito brilhante os trez Reis do Oriente ; e feguindo-a como a norte de feas defejos , acharão o Divi- no Sol, e a melhor Lua na. Lapa de Belém, que ' B fer- lljiipii: \ mmm?'r^\m^m^tm\ \íàmÊif>m 1 SERMÃO fervia de esfera concava a tão foberanos Plane- IVIatth. 2. tas : Videntes autem Stellam gavifi funt gáudio magno valdè , (l^ intr antes domum invenerunt Puerum cum Maria Matre ejus. Alegrárao-fe y os Magos, porque acharão o que queriao; e pa- ra que fuás felicidades corre fpondeíFem aos in- fluxos de tai Sol, Lua, e Eílrella, confeguírao trez Coroas , de Reis, de Bifpos , e de Marty- res. E quanto fe devem alegrar as novas Reli- giofas profeíías da Conceição , por acharem com eílrella melhor que a de Belém tudo, quan- to podião defejar na Lapa da Bahia ! A Eílrel- la , que as guiou para efta Lapa , foi o Efpirito Santo íigurado na Eílrella dos Magos : Alii Spi- Voragín. deEpiph. Serm. 3. ritíim Sanâíum , qtii in fpecie Stella appartiit. E logo que entrarão na Lapa , acharão a Jefus Chriílo, que no rebuço daquella Hoftia aseftá Pfalm.iS. galanteando como Efpofo amante : Tanquàm Sponfus procedens \ e achando a Virgem Maria , que no titulo da Lapa fe eftá inculcando Mãi Ecclí.24. amorofa : Ego Mater pulchra dileâíionis, E como quem tem eíle Elpofo , não neceííita de outro amparo , e quem tem efta Mãi não care- ce de outro abrigo, por eíla razão ha de fer fó eíle Efpofo , e ha de fer única eíla Mãi : Una eft columha mea. Por eíla pomba única na aber- tura de huma pedra , ou no concavo de huma Cant. 2. Lapa : Columba mea in foraminibus petr£ , fe entende a Humanidade de Chriílo defpofada, e unida ao Divino Verbo , venerada das celef- íiaes virtudes , que a acclamárão Beatiífima na La- DE N. S. DA LAPA. 3 Lapa de Belém : Viderimt eam qu£cumque vir- Gomment. tutes nafcentem in terris , pannis involutam^ '" ^^^f- majeftatis gloria corufcantem , à^ heatijjimam ^^^' ^^^* pr^dicaverunt , diz o A' Lapide ; e fe entende juntamente a Virgem Maria , que namefma La- pa fe oílentou Mai do Filho de Deos , dando-o nafcido para remédio do mundo : Maria eft co- phiiip. Ab; lumba in petra foraminihus non tam gemens , í'^- 3- »» quàin fecuro munimine latahimda, ^''"^" ^' ^ ^* Là efperavão aquellas virgens do Euange- Iho que vieíle o Efpofo \ mas não o bufcavao, e por iíTo algumas forão reputadas por nefcias, e íicárão de fora : Nefcio vos ; porém eílas vir- Matth. if ; gens da Bahia , porque o bufcárao na Lapa muito de propoíito , o acharão com grande fa- cilidade junto com Maria Santiííima j Mãi de Deos 5 e dos homens. Aqui virão , e acharão Efpofo 5 eMãi; e recolhendo-fe debaixo do feu abrigo , neíle anno do noviciado , como boas filhas forão pregoeiras das glorias da Mãi , e do Efpofo: Viderunt eam filia; ^ ^beatijjimam pr£dicaverunt\ mas agora que conhecidas fuás virtudes, e provadas fuás refoluçoes , profefsá- rão os votos da Religião para fó louvarem , e fervi rem a Deos , pafsão de filhas a fer Rai- nhas: Regin£ lãudaverunt eam. Não o diífeni eu, fe jà o não houveíTe efcrito o famofo Cor- nelio: Per Reginas accipiunt animas fanal as ^ Commenf. qu£ ex amore Deo ferviunt , ^ ad c^lefte re- i«i Cant. 6. gnum afpirant. E com maior razão quando fe ^^^" ^°^* completão fuás profífsoes , e ofFertas de feus votos no mefmo dia , em que os Reis Magos B n tn- h h\: 'lii- :, m. .7T5Z««at3pS. 4 SERMÃO tributarão ao Menino Deos as offertas de ouro , incenfo , e myrrha ; porque no ouro fe reprefen- ta a pobreza , no incenfo a obediência , e na A' Lap. in myrrha a caftidade : Per thusvotumohedientÍ£ ^ Matíh. C.2. per myrrham votum cajiitatis , per aurum vo^ tum paupertatis. Logo feeílasReligiofasconfagrão aDeos os votos de caftidade , pobreza , e obediência no mefmo dia , em que os Magos oíFertárao a Chriftoouro , incenío , e myrrha, poriíToaíRm como elles forao Reis, também ellas fe confti- tuem Rainhas ; e fe os Magos pelas fuás trez oíFertas merecerão trez coroas , outras tantas coroas pelos feus votos confeguem eftas Reli- giofas. Jà quando receberão o fanto habito as moftrei coroadas de flores pelo Sacramento ; mas agora o mefmo Sacramento para cada Ef- pofa fera coroa triplicada , e correfpondente a Efcob. 1. 1. cada hum dos votos: Euchariftia ejl corona ^ ad fea.S.n.io, qiiani fponfíis invitat fponfam dicens : Veni ^ "ueni^veni coronaberis. Será coroa demagefta- de no ouro da pobreza: Per aurum votum pau- pertatis y coroa de aromas no incenfo da obe- diência : Per thus votum obedientia ; e coroa de perpetuidade na myrrha da caftidade : Per myrrham votum caflitatis. De modo que o Divino Efpofo Chrifto facramentado , conver- tendo em coroas os votos de fuás Efpofas , fi- lhas de Maria , as conftitue Rainhas , fendo elíe mefmo para cada huma coroa mageftofa, coroa odorifera , e coroa perpetua ; pois q':.^ ellas guiadas do Efpiriío Santo , como eftrei ia. DE N. S. DA LAPA. y la, virão , e louvarão na Lapa a Maria por fua única Mãi , e a Jefus por feu fingular Eípofo: Una eftcolumba mea . . . viderunt earãfiUa ^ & heatiffimam pradicaverunt. Regina laudaij e- riint eam. Per Reghías accipiunt animas f a n- ãas , qti£ ex amore Deo ferviunt , ir ^d de- lefte Regnum afpirant. Não pareça defattençao à voíTa Mageíla- de 5 ò foberana Rainha do Univerfo , dar eu a eftas voíTas filhas o titulo de Rainhas , quando meu penfamento fó fe funda na voíTa grandeza , porque fois Rainha de Rainhas , aíTim como vof- ío Fiiho he Rei dos Reis. Bem conheço manha infufficiencia para tão grande empreza , por ter entendimento pobre, e memoria fraca; mas co- mo vós, Pomba Divina, fois oobjedto de meus difcurfos, alentareis minha fraqueza comvoíTos auxilios, porque para amparares a quem na La- pa vos bufca fois Ave Maria chea de graça. Una efl columha mea . . . viderunt eamfih^ , @* beAtiJfímam pradkaverunt j Regin^e , , . laudaverunt eam. Cantic 6- Quão incomprehenfiveis são os juizos Di- vinos 1 Mas algumas vezes permitte o mef- mo Deos que fejão efquadrinhados dos entendimentos humanos, para maior gloria fua, e utilidade noífa. Tão myíleriofo , como grande foi íemipre o dia de Reis , ou a feíla da Epifa- nia líiti ! ' J?';: li i1 6 SERMÃO nia para eíla Igreja ; porque fendo dedicada â Senhora da Lapa , e na Lapa de Belém fe ma- nifeíloii aos homens deíTe Verbo gerado abater- no a EíTencia Divina em a natureza humana, difpoz Deos que a Igreja da Senhora da Lapa folie fundada no dia de Reis no anno mil e fe- tecentos e vinte dous , e que no próprio dia do anno feguinte fe abriííe com magnificência tão Regia, como Divina. Profeguírao fuás feftas fem- pre no mefmo dia , atè que chegando o anno de mil e fetecentos e trinta e féis , impetradas as licenças neceífarias, fe lançou a primeira pedra no mefmo dia de Reis para o Convento das fi- lhas da Senhora da Conceição , que concluído no anno paliado na vefpera , em que a Igreja Pfalm.44. celebra aqueiiemyílerio, parece que a cada hu- ma das filhas diíle a Divina Mãi: Aíidi filia ^ í^ mãe , i^ inclina aurem tuam , ^ oblivifcere populmn tuum , : Ver aurum votum paupertatis. Mas como pode fer que o Rei dos metaes , aquelie , que domina tudo , feja jeroglyfico da pobreza , quando nunca houve harmonia entre a pobreza , e o ouro ? Affim he , quando a po- breza he invokmtaria; mas quando he por von- tade própria , he tão rica , que excede ao mef- mo ouro , e mais eílimavel do que as riquezas todas do mundo. Efcrevia S. Paulo aos de Go- fintho, e enfmava-ihes que nada tiveílem, para poí- DE N. S. DA LAPA. p poíTuirem tudo: Nihil hahentes ^ ^ omnia pof- AdCor. i Jídentes. Mas como allim ? Os Corinthios hão cap. 6. de deixar fuás riquezas , hão de abandonar feus cabedaes para então poíTuirem tudo? Sim, por- que o Apoílolo lhes aconfelhava a pobreza vo- luntária, que he mais rica do que todo o ouro: Aurum eft voluntária paupertas ; h£C enini di- A' Lapid. tijjima eft^ Deo gratiffima pr£ omniauro. Pois ?'^jJ;"^^J"^ fe eíTa pobreza voluntária he mais agradável a è^p l^ Deos do que todo o ouro, bemhe que eílie feja defprezado como nada, para fepoíTuir a Deos, que he tudo : Nihil babentes , (í^" omnia pojfp- dentes. Por iíTo Maria SantiíTima defprezava as riquezas todas, porque poílu ia, e fó queria pof- fuir tudo no feu Divino Filho , moílrando me- lhor o defprezo do ouro à fua viíla na Lapa , porque diftribuio com os pobres o que os Ma- gos tinhão oíFerecido : hicetenim três Reges A' Lapid. magnam vim auri Chrijio obtulijfent , tamen '" ^"^ ^' Beata Virgo paupertatis ftudiofa ex illis pau- "^^^ * ^^* ca accepit . . . aut fi plura , ea in pauperes dif- tribuit. Da mefma forte Jefus Chriílo , como Filho de tão boa Mãi , foi defprezador dos bens , e riquezas do mundo ; e ainda que fobre elle tinha dominio geral, como Deos, com tu- do nafceo pobre, vi veo pobre, emorreo pobre. Com efte exceíFo raoílrou o Senhor amar, efe- guir a pobreza de tal forte , que diz Cornelio A' Lapide a profefsára , para dar-nos exemplo , e fer Meftre da vida mais perfeita : Nota Chri- \^f^^^\^ ftum . .., paupertatem^ idefty carentiam huma- verf. 0. C ni jj';, ' I!"' SsUwi-^íi^tf hiÉ^- f Wi iMiitwiiá«Éi>>-'miiiiiiii ■ iiriliiirái v,l IO SERMÃO ni dominii , prout illud efi in ufu hominumy profejfum ejje , ut perfeâiioris vit£ ejfet Ma- gifter , ejusque nohis d ar et exe?nplum. E que grande confolaçao para eílas Religiofas fabe- rem que o feu Divino Efpofo profeíTou pobre- za j aíTim como eilas profefsárão ! A mefnía , e maior pobreza moftra Jefus Chrifto naqueile Divino Sacramento , porque alli eílá tão pobre , que não tem migalha de pão ; veremos algumas efpecies delle , mas de íubftancia nada. E fe as novas Religiofas tem exemplar tão perfeito na Virgem Maria fua Mãi , que na Lapa defprezou o ouro , que lhe oíFerecêrão os Reis ; e em Jefus Chriíto feu Ef- pofo 5 que profeíTou pobreza para lhes dar ex- emplo , como não farão ellas de todo o coração o voto da pobreza, renunciando todos os bens, e riquezas do mundo, profeUando, e feguindo a pobreza voluntária, que he Rainha coroada, aquém cede toda a gloria? Aílim odiííeVilla- Roel : Cedit tota gloria , ubi regnat paupertas voluntária : Cede toda a gloria , onde reina a pobreza voluntária. Logo a pobreza voluntária he Rainha? Não ha duvida; e tanto, que con- flitue , e faz Reis aos que a feguem. Deixou meu Padre S.Pedro barcos, e re- des para feguir a Chriílo ; e fazendo mérito deíla renuncia , perguntou ao Divino Meftre que Matih. 19. premio devia efperar : Ecce nos reliquimus om- 9iia , íj^ fecuti fumus te\ quid ergo erit nobis} Quizera eu agora arguir a meu Padre de efque- cido j mas náo quero , porque fou bom filho ; po- Tom. 2. Tâutol. 8. Did. prim. DE N. S. DA LAPA. n porem cà para nós: como ainda efpera premio, fe Chriílo jà o tinha premiado , e tanto , que mais não podia fer , porque lhe havia dado as chaves do Reino doCeo, com dominio em to- da a terra ! Dabo tihi claves Regni Cmlorum^ Idem 16^ (ír quodcimque U^averis fupert erram ^ eritli- gatum & in Coelis ; e o mefmo foi dar-lhe as chaves, que conílituillo Rei : Claves funt infi- A^Lap.hic. gne Regum , & regentium. O certo he que fe quiz ratificar no premio , e ailegou o ferviço. Bem fabia Chriílo que Pedro fe fizera pobre , deixando o mundo pelo feu amor , e por iíTo lhe pagou a fineza com fazello Rei , e Senhor do mundo. Admiravelmente o diíTe Santo Agof- tinho: Prorfus totummundum dtmijit FetruSj In Pf.103, ^ totum mundum Fetrtis accepit. Abraçou Pedro a pobreza voluntária, fe- guindo nella a Chriílo : e que fe lhe havia de feguir fenão fer conílituido Fvei com dominio em toda a terra ? Daho tihi claves. Claves funt injigne Regum, Não menos que huma coroa heo premio dos que profefsão pobreza , e o mefmo conieguem as novas Religiofas , que à imitação de Jefus feu Efpofo , e de Maria fua Mãi profefsão o voto da pobreza reprefentado no ouro , e por iíTo conílituidas Rainhas , que coroadas pelo Divino Efpofo com diadema de ouro , em que lhe converte o voto da pobre- za, elle mefmo lhes ferve de coroa mageílofa, porque o ouro , por fer o Rei dos mxíaes , he fymbolo da mageílade , e aquelle auguílo Sacra- mento he ouro puriíTimo , de que fe adorna a C ii San- Conc. 3. ^SSmSà ■VA. áifíi^rti^íiii Phnip. à s. Co! a ai b. Nicaf. iVlyftic. A' Lapid. Comment inMaííh.2, Tert. Prssd. verb, Cajlitas. Coiic. prim. Ibid. Cone. 4. II S E Pv M à O Santa Igreja: Euchariftia ejlaiirum^ quo Eccle- fia ornatiir'^ e fe com tao rico , epreciofo diade- ma fe vê coroada Rainha cada huma das Religio- fas profeíTas , por iííò com todo o aíFedo louvão ao Divino Efpofo no Sacramento ; e a fua Mai foberana na Lapa : Regina laudaveriint eam, A outra oíFerta , com que os Reis Magos obfequiárâo ao Menino Deos, foi myrrha^ e o fegundo voto , que a Deos oíFerecêrao eítas Religiofas Rainhas foi a caftidade : eíle fe re- prefenta naquella oíFerta, conforme o A' Lapi- de : Per myrrbam votum cqftitatis. Mas que analogia pode ter a caílidade com a myrrha ? Muita, porque a myrrha he certa goma, ou re- fina muito cheirofa , que fane de huma arvore do mefmo nome porfcifuras, que fe lhe fazem para eíle eíFeito ; e por iífo jeroglyfíco muito próprio da mortificação, penitencia, e caílida- de : Myrrha eftjejunium carnis mortificatio y (ir qu£ inde nafcitur caftitatis, He a caílida- de a ílor dosbons coílumes, como lhe chamou oVivien, e por iífo àfemelhança da myrrha ex- hala fuaviílimo cheiro muito agradável a Deos: Nihil flore fragrantius ' caftitas fuavijjimwn efflat odorem. E fe a caílidade em qualquer ef- tado he a ílor dos coílumes, a caílidade virgi- nal, como mais excellente, he a coroa das vir- tudes ; e por iífo as virgens , que a profefsao , são R^ainhas coroadas : Virginitati competit coro- na ; per coronam autem Regia denotatur digni- tas, Coílumavão os Romanos coroar os ítvi^ A' Lap. ín DE N. S. DA LAPA. 13 foldados vencedores com diíFerentes coroas, conforme as qualidades das vidorias ; e fendo piaufiveis as que o valor confeguia contra as nações belligerantes , mais dignas de triunfo são as que acaítidade confegue contra os inimi- gos domeílicos. Vivia Judith emBethulia, co- mo exemplar da caílidade : intentou Holofer- nes deftruir a Cidade , bloqueando feus muros. Sahe Judith contra elle , corta-lhe a^cabeça , e triunfa de todo feu exercito ; mas não foi lau- reada por eíla façanha : e porque ? Porque triun- fo maior , e mais gloriofo do que eíle tinha Judith confeguido vencendo a carne, e o mun- do : Nohilíus^f gloriofms de carne ^ & niun- ^^.^^ do quàm deHoloferne triumphavit. Era Judith J^^' ^^ formoía , rica , difcreta , e por eíles dotes da fortuna, e natureza procurada de muitos Prín- cipes para efpofa ; mas ella recolhida em fua cafa, profeíTando caílidade, nada quiz, tildo re- jeitou por agradar, efervir aDeos. Eque bem a imitarão em fuás louváveis refoluçóes eílas Religiofas , deixando as galas , aj jóias , e as riquezas , defprezando as pertençóes , ou per- tendentes do mundo para fe defpofarem com Deos pela caílidade ! Mas aíTim obrarão como filhas de Maria SantiíTima , que fendo Virgem das virgens , tem efpecial cuidado em defender , e patrocinar as virgens , que são fuás filhas , e afilhadas : Ipfa enim^ cumfttVirgo virginunij virgines quafi clientes prote^git. Pela fua caílidade virginal mereceo Ma- ria Santiífima fer Mãi do Filho de Deos , Rai- nha ilM- Ibid. c. i> wmk Hf iiiii"#''i ÉMMlíyiwiii' "' 11'" -^iiiV- ' HjiíÁfMl 14 SERMÃO nha dos Anjos , e dos homens ; e como Rainha Univerfal , e Mai do Rei da Gloria também recebeo na Lapa adorações dos Reis. Naquel- le augufto Sacramento oitenta Chrifto fua pu- reza caftiíílma , porque fe moftra todo cândi- do , e celeftial , donde o Profeta Zacharias o Zach.p. appellida vinho , que produz virgens : Vimim germina?!^ virgmes. E que maior eílimuío pa- ra eftas virgens obfervarem com pureza o feu voto de caítidade , do que verem , e olharem para o Divino exemplar de feu Efpofo no Sa» cramento , e de fua Mãi na Lapa , fugindo ao trato 5 e converfaçao mundana para confervar puros, e caftos os mefmos penfamentos ! Dig- nas de admiração são as aguas da fonte deTri- vio em Roma^, porque não fó vem fugindo do Rio Herculano , por não feinvolverem com ei- le 5 mas também quando as ajuntão com outras aguas apartão-fe delias , e por efta razão as cha- mão aguas virgineas : e fe eílas aguas tem fe- melhante eíFeito , e por elle confervão o nome de aguas virgens , bem he que as virgens dedi- cadas a Deos , como aguas claras , e limpas , fe apartem do trato , e communicação com outras creaturas , porque aílim acreditado o feu voto de caítidade , por elle fe conflituem Rainhas. Solto Jofé do cárcere , em que eílava pe- lo teftemunho deZefírac fuafenhora, foi leva- do àprefença de Farão, para explicar-lhe o fo- nho; e pelo acerto, com que o fizera, foiconf- Pfalm.104. tituido Príncipe doEgypto: Coiijiituit etim do- minitm domús fu£ , ^ principem omitis pojfef- fio- DE N, S. DA LAPA. ly Jíonisfu£. Mas qual foi o mérito d efte Prin- cipado 5 e o motivo deíle império em Jofé ? A caílidade , que por não perdella antes quiz fer encarcerado , como diz Lorino : In cárcere in- Lorin. hic. chídí maluerit j quàm caftítatemamhtere. Pois ^- *^- fe Jofé por confervar a caílidade não teme hu- ma prizão , bem he que faia do cárcere para o throno, e em credito dafua caílidade feja con- ílituido Rei do Egypto. AíTim o advertio São João Chryfoílomo : Vide quomodo cajlus ^0- Homil.63. feph repente conjiittíimr Rex totius jEgypti, Entrou Jofé no cárcere como prezo , procedeo como caílo , fallou como fabio , e quando me- nos fe prefumia, foi conílituido por Farão Se- nhor 5 Principe , e Rei , do feu Palácio , do feu thefouro , e do feu Império : Conflittãt eum do- minum domus fu^e^ C^ Príncipe^ omnis poffef- Jionis fu£. Vide quomodo cqftus Jofeph repente conftituitur Rex totius JEgypti. E que bem imitão ao caílo Jofé as noífas Religiofas , que fe encerrarão neíle Convento , para louvarem a Deos , comiO fábias , e profef- farem caílidade , como virgens ! E aíHm como Jofé por aquella virtude foi conílituido Rei , eílas P.eligiofas por fuás heróicas refoluçoes fe vem coroadas Rainhas, fervindo-lhes de perpe- tua coroa o mefmo Efpofo facramentado pelo voto de caílidade íigniíicado na myrrha": e fe a myrrha he prefervativa de corrupção , e por iíTo fymbolo da perpetuidade , myrrha he aquelle foberano Sacramento , porque perpetua as al- mas na graça Divina , e preferva os corpos de cor- lá SERMÃO I $ 1' Pinn. in eoiTupçoes libidinofas : Eucharlftia ejl myrrha j T^í^de ^^^^ corpora à libidinis corruptione tuetur. Euchar. Pois eíla he a incomparável felicidade , com Ethol 4^6. que o Efpofo Divino exalta fuás Efpofas aman- tes , prefervando-ihes as almas , e ennobrecen- do-lhes as cabeças , como myrrha preciofa , e como coroa perpetua , para louvarem na Lapa a Jefus 5 e a Maria , fe atègora filhas amantes, jà hoje Rainhas coroadas : Regin£ laudaverunt eam. Em correfpondencia da terceira oíFerta dos Santos Reis , que foi incenfo , dedicarão noíTas Rainhas a Deos o terceiro voto , que he a obediência : Per thus votum ohedientia ; por- que aífim como o incenfo fe abraza em fogo vivo para exhalar fuaviílimo cheiro , aílim a obe* diencia deve tbrazar a vontade própria nas cha- mas da caridade , para fer holocaufto fuaviíli- mo a Deos. Melhor a explica Cornelio A' La- Comment. pide : T^hus eft obedientia y qua homojuam vo- inMatth.x luntatem^ li^intelleâíumj immò totumfeipjum Deo quafi thus in holocauftum offçrt. Efta vir- tude da obediência he muito r^commendada do mais fabio Rei Saiamao, quaqdoaconfelha-^ va aos filhos que attendeíTem a doutrina dos pais , e obfervaífem a lei das mais : Audi^fili mi j difciplinam patris tui , é^' ne dimittas le- gem màtris 4u£, Mas efta norma , que era pre- venção daquelle Real Meftre, deve fer cautela neftas Reaes difcipulas , porque la os preceitos ainda não eftavão dados ; e cà as leis jà eftão recebidas , como fe fallaííe Salamão com cada Religiofa. j Ou- Prov. 4 verf. 8. DE N. S. DA LAPA. 17 Ouve , filha da Religião , a doutrina de teu Excel lentiíTimo, eReverendiíIimo Pai, que com tanta fabedoria, e prudência tem dirigido os acertos para tua viíia Religiofa. Não dei- xes , e nunca te efqueça a Lfei , e fanta Regra , em que eílás doutrinada por tua Mai efpirituaí a Reverendiílima Madre AbbadeíTa , e fua di- gniílima Companheira a Rev. Madre Meílrada Ordem : obferva com memoria , entendimento , e vontade os confelhos , as direcções , e os pre- ceitos , com que te tem inílruido para fervires a Deos , defpofando-te com feu unigénito Fi- lho. Là Salamão promettia ao filho huma co- roa graciofa em premio da fua obediência : Ut ibíd. ãddatur gratia capiti tuo : Vertem os Setenta : Ut ãddatur corona gratiarum\ e ca Deos con- Apud A* fere huma coroa aromática a cada Eípofa pelo ^^p. ibi. voto da obediência, porque poreíla virtude fe dobra o premio a quem a exercita. Mandou Deos ao Patriarca Abrahão que fahiíTe da fua pátria , e deixando a cafa de feu pai , e communicação de feus parentes , foíTe pa- ra a terra , que lhe moílraíTe , porque ahi o fa- ria hum grande homem : Egredere de terra Gen. 12. tua , (l^ de cognatione tua , ^ de domo patris tui , ^ veni in t erram , quam monftraho tibij faciamque te ingentem magnam. Se Deos que- ria augmentar as riquezas de Abrahão , não o podia fazer na fua pátria ? He fem duvida ; pois logo para que o manda fahir delia , e peregri- nar por terras alheias ? Sim , porque Deos que- ria experimentar a obediência de Abrahão , e poriífo mandou-lhe que deixando tudo , fahiííe D pa- 'Vil 18 SERMÃO para onde elle lhe deftinaíTe. Bem o advertio Apnà Lipomano : Ut ex hoc maior Abraba ohedien- iMenf.Cib ttã mofiftretur. Obedeceo o Patriarca a Deos nfi 4^^^^' ^^"^ attender ao muito , que deixava , e por pre- "^ * mio da fua obediência adquirio grande nome, e confeguio muita riqueza : Egredere de terra tua , ir de cognatione tua , ó^ de domo patris tui 5 é^ veni in t erram , quam monftraho tibi ^fa- ciamqtie te in gentem magnam. Ut ex hoc ma- ior Abrah£ obedientia monflretur, lílo , que fez Abrahao , fizerao noíTas Re- ligiofas 5 porque obedecerão à vocação do Se- nhor , que as chamou para a Lapa , deixarão a companhia de feus pais , e fahírao de fuás ca- las, abandonando tudo para virem viver na ter- ra clauílral deíle Convento , que, Deos lhes mof- trou j onde tempromettido o voto de obediên- cia, como oíFerta ao feu Real, e Divino Efpo- fo. Mas oh que ventura , e que felicidade ; por- que affim confeguírão felicidades maiores do que as de Abrahao, affim imitão a fua MãiSan- tiffima 5 que na Lapa moílrou grande obe- diência na Circumcisão do feu unigénito Filho , cumprindo com a lei , de que o Menina Jefus eftava izento , como Deos foberano. Com obe- diência tratou a Senhora ao grande Patriarca S. Jofé , fujeitando-fe como fua Efpofa ao do- minio do caíliffimo , e virginal Efpofo , fendo ella a Rainha do Ceo , e Mãi de Deos. Tam- bém moftrou a mefma virtude Jefus Chriílo Senhor noífo na fujeição , e obediência , com que refpeitava a fua Mãi verdadeira , e a feu Lue. 2. Pai putativo : Erat fubditus illis^ e finalmente pro- DE N. S. DA LAPA. 19 profeíTou obediência atè morrer : Faêíus eft obediens tifque ad mortem. No mefmo Sacra- mento moílra o Senhor a maior prova de fua obediência ; porque apenas o Sacerdote profere as palavras da confagraçao, logo obedece a el- las , como fe as diíTera o mefmo Deos : Quaji Apud Vi homofit Dei Deus ^ admira SaoThomaz. Mas ^'^«^^ quando aífim à imitação dofeuEfpofo Divino, ^ç^^^ e de fua Mai gloriofa exercitao a virtude da obediência eftas Religiofas , então fe eftabele- cem na coroa como Rainhas. Decretou ElRei Aíiuero defpofar-fe , e fazendo congregar as mais for mofas donzeílas do feu Reino , entre todas foi Eílher , a que mais lhe roubou os agrados , de forte que a conf tituio Rainha : Adamavit eam Rex plufquam Efth.i. 17* emnes mulieres^ i^pofiãt diadema regni in ca- pite ejus. Quem não dirá que a belleza de Ef- ther foi que a elevou a tanta grandeza ? Não ha duvida ; mas fe ella não obedecera a Mar- doqueo feu tio , nunca chegara a receber a co- roa : Mardocheus enimpr^ceperat ei tit hac re Ibid, lo. omninò reticeret, Havia-lhe o tio ordenado que callaíTe a geração Hebraica , de que defcendia , e ella executava o preceito, que Iheimpuzera: pois então que fe havia de feguir à obfervan- cia da obediência , fenão a coroa de Rainha ? Pr£ceperat ei ut hac re omninò reticeret. Po- fuit diadema regni in capite ejus. Pela fua rara obediência confeguio Ef- ther a coroa de Rainha , como mulher de AíFue- ro Rei de Períia ; e peio voto de obediência merecem eílas Religiofas a terceira coroa de D ii Râi- ^m Theor. n. 2. IO SERMÃO Rainhas , por eftarem defpofadas com Jefus Chriílo Rei da Gloria ; mas com tanta diíFe- rença de Rainha a Rainha , quanta vai de co- roa a coroa , porque a coroa de Efther , como caduca, acabou logo; mas a deílas Rainhas he eterna; e ha de durar fempre , pois que lhes fer- ve de coroa aromática o mefmo Eípofo facra^ mentado ; e porque o voto da obediência fe reprefenta no incenío , goma odorifera , que en- tão fe refolve em cheiro , quando fe abraza em fogo , naquelle Divino Sacramento eftá Chrifto , como incenfo abrazado em amor por aquellas almas , que unicamente o appetecem. Fielmen- te o diz o Douto Fideli : Eucharifiia eji thusy quiajictit thus eft efe a ignis , ita Eucharifiia eft cihus animarum , qu£ igne Divini amoris ãccenfíc pr^ter Deum fuum neminemappetunt, A ninguém mais para efpofo appetecêrao as nof- fas Religiofas , quando feculares , fenao ajefus Chriílo, para o metterem no coração, debaixo das efpecies Sacramentaes , e por iíTo elle, co- mo iguaria Divina , lhes fuftenta as aímas , e co- mo diadema aromático lhes coroa as cabeças : Eucharifiia efl thus. Mecum coronaberis, E fendo tão fuperior efta, e as mais coroas íigni- ficadas nos véos deílas Religiofas , com razão fe lhes deve o titulo de Rainhas , que à imita- ção dos Santos Reis bufcárão a Lapa , onde acharão para fua Mai a Mãi de Deos , e para Efpofo o Filho de Deos , que não fó as coroa de fua mão , mas comíigo mefmo : Mecum co- ronahêris. Nos defpoforios de Carlos VIII. Rei de Fran- DE N. S. DA LAPA. ir França com Margarita Archiduqueza de Auf- tria le reprefeiitou em Valencianes huma Ope- ra , em que fe via a figura do Rei coroado de Margaritas , ou pérolas preciofas , e a da Rai- nha com coroa de certas moedas de ouro, a que chamavão Carolinos, dando aíTim a entender o Author daquella invenção , que fe para o Rei não havia melhor diadema do que a mefma Rai- nha , também para a Rainha não havia melhor coroa do que o mefmo Rei. Aífim Jefus Chri- ílo facramentado , Rei da Gloria , com eílas Religiofas Rainhas , que para fatisfazer-lhes a fineza, com que fe enclauílrárão pelo feu amor, elle próprio lhes ferve de coroa tdplicada em cada voto reprefentado nas oíFertas dos trez Reis. Nem fe prefuma ferem eílas coroas men- talmente confideradas , porque são realmente impoftas. Os diademas Reaes , de que antiga- mente ufavão os Monarcas , nenhuma outra cou- fa erão mais do que pannos ou cândidos , ou purpúreos 5 com que cingiao as cabeças ; pois neíies fe cifrão os véos, que na cabeça de cada Religiofa fe põem na proíifsão. A Tiara Pontifí- cia he formada depanno carmezim, cingida de trez coroas ; aífim também inclue trez coroas o véo monailico. Aquellas trez coroas da Tiara correfpondem a cada huma das trez Cruzes, de que fe forma o Bago doSummoPontifice; tam- bém as trez coroas , que fe involvem no véo, correfpondem aos trez votos de Religião, que são trez Cruzes , que carregão atè morrer. E quando nada tenho fubido tanto com as Reli- giofas profeífas , que as levantei ao Throno Pon- lillii::!: ■;' ' •„:1 ti SERMÃO Pontifício. Mas fe como Religiofas tem Cru- zes nos votos , neíTes mefmos tem coroas , co- mo Rainhas , e taes coroas , que são o mefmo Divino Efpofo no nevado circulo daquelle Sa- cramento : Mecuni de Libam jfponfa , mecum de Líbano , mecum coronaberis. Atèqui , fendo Noviças , procederão como filhas da Senhora da Lapa , acclamando-a Beatiílima em coro Se- ráfico; mas agora que são profefias, confervan- do apropria filiação / fe conflituem Rainhas co- roadas para louvarem continuamente a Mãi , e o Efpofo figurados na Pomba única da Lapa : Una eJlColumba mea. Viderunt eam filia , (^ Beatiffifnam pradicaverunt. Regina laudave- runt eam. Per Reginas accipiunt animas fan^ Bas , qiia ex amore Deoferviunt , (á;- ad Cce- lefte Regnum afpirant. Se atè agora preguei eu fó, daqui por di- ante quizera que prégaífem commigo todos os meus ouvintes, não com exprefsões da lingua, que feria huma confusão de vozes , mas com frazes do coração , ainda que feja huma Baby- lonia de amores. Defejo em fim que me aju- dem a dar os devidos parabéns , primeiramente ao Excellenriífimo , e Reverendifiimo Metro- politano do Brazilnofibdigniffimo Prelado def- tinado por Deos para fundamento * efpiritual deíle Convento , em que vio bem logrado o feu defvelo, aífiílindo aeftasReligiofas, edan- dO'lhes os documentos neceífarios atè coroar o feu zelo com a gloria de as profeííar , e dedi- car a Deos. Repetidos fejão os parabéns àRe- verendiífima Madre AbbadeíTa pelo jubilo, que recebe, em ver defpofadas com o Rei da Glo- ria wm DE N. S. DA LAPA. 23 ria eílas fuás filhas , que concebendo-as no co- ração ha hum anno , agora renafcêrao para tão celeftiaes defpoforios : e feja feu maior elogio feu próprio nome ; porque fe Maria he o mef- mo que exaltada liif^r/^, idejl^ eoialtata^h<^xxi D.Híeron. exaltada fera na poíleridade eíla Maria pela í»í^»'^ib^' gloria de Fundadora. Os mefmos parabéns à R. Madre Meílra da Ordem pelo prazer de ver bem empregado o trabalho , que teve com fuás Noviças , offerecendo-as em finco dias ao Divi- no Efpofo como frutos de fua exemplar dou- trina : refultancia he do feu nome ; porque fe Jofé fignifica filho, que crefce: y^/^/?/;, /^^, filhis accrefcens , defta Jofefa diremos íer Ma- dre, que augmenta, porfer duas vezes Clara. Parabéns innumeraveis demos às Religio- fas Rainhas pelas Divinas bodas , que fouberao merecer , e pelas Reaes coroas , que pudérao alcançar ; pois todas as vezes que puzerem nas cabeças os feus véos , devem lembrar-fe que he huma coroa triplicada, que lhes deo feu Efpo- fo o Rei da Gloria , para correfponderem ao feu amor excefilvo com muitas finezas extremo- fas. Efpeciaes parabéns recebao as duas Afilha- das da Senhora da Lapa pelo defempenho de tão admirável Madrinha , que neíle dia , e na fua fefta lhes deo o eílado mais venturofo , e a ventura mais permanente ; pois fe Maria tem no fobrenome da Cruz toda a gloria de Jefus Chriílo : Gloriam meam , Crucem meam , Fran- GUrUm cifca tem no fobrenome do Sacramento a boa ^^amaiurt graça de feu Efpofo : Eucharii^ta , id ejl^ bona \^^ gratia. Parabéns ao Fundador defte Conven- ° to, por ver, eprefenciar com tanto goílo com- ple- I:]!!;; ! noti dabo, 41. ^.«TSSíií^. ^\ré 24 SERMÃO DA S. DA LAPA.^" pleta a obra, que fe lhe julgava tão difficíl; mas jà elle tinha em feu nome. o vaticínio de tanta felicidade , a graça em fer João , a mara- vilha em fer Miranda , e a expedição em fer Ribeiro. Parabéns , e mais parabéns , pais , e mais das Religiofas , porque não podem ter maior goílo, do que verem fuás filhas Rainhas , com tanta authoridade , que fe as não virem por vi- draças, hão de vellas porgelofias; pois he jufto todo o melindre, e recato emhuma Rainha Ef- pofa de tão grande Rei. E a vós , Soberano Monarca , e Senhor do Univerfo , louvores immenfos fejão dados à porfia por eíFas Jerarquias Celeftes , que para o noflx) defempenho não baftão as vozes huma- nas. Infinitas graças vos rendemos , e a voíFa Mãi Santiílima , que no feu titulo da Lapa tem moílrado a firmeza de feu auxilio a desfazer tantas difficuldades, para nefte lugar fe engran- decerem, e louvarem os Santiííimos Nomes de Jefus, e de Maria. Attendei, Senhor , ao aug- mento efpiritual , e temporal defte novo Ceo , para que permaneça obfervante da fanta Re- gra Seráfica , e no feu Coro Angélico fe en- toem voííbs louvores atè o fim do mundo. In- fundi em voíTas Efpofas amantes aquella pu- reza de coração , que vós quereis , em credita da Puriffima Conceição de voífa Mãi Santiíli- ma , para que como filhas de tão grande Senho- ra, e Efpofas.de tão grande Rei, fejão herdei- ras da graça da Mãi , e participantes da Gloria do Efpofo. Permitti finalmente que as vejamos neíTe Palácio do Empyreo , onde viveis, e rei- nais por todos os fecnlos. Amen. FIM. PRIMEIRA OR AÇ AÕ FUNERRE, NAS EXÉQUIAS, QUE SE FIZERAM no eílado do Brazil A' MORTE DO FIDELÍSSIMO REY Noflo Senhor D.JOAÕV. JSla Se da Cidade da Bahia* DISSE-A Huma voz naõ menos fcntida que lattimada. Ili::': 1*1 ''r I; LISBOA: Na OíEcina de FRANCISCO DA SILVA. Anno de MDCCLII. Cm as Ucmças mccfarias* ■s A r mfmmmimimmÊÊÊmmm. I ■■■ ■'■.'■ g- m. i .» *^\ '.y .|.'i ^ I ..S •■- _:\i ■ •. .. -v '•■ •■J • .\- V ■•'• .■•• . 5 ^.^.>-t?